Leis, advogados e juízes

21/11/2024 12:43

 

“Existe entre nós uma classe de homens, formados na arte de provar com verbalismos estupendos que branco é preto e preto é branco, de modo que a cor do objeto depende do pagamento; afirmam que tudo que já foi feito uma vez, por mais infame que seja, pode ser feito impunemente outra vez, e citam esses casos de precedência como autoridades para justificar as opiniões mais injustas, que se chamam sentenças, quer dizer, opiniões arbitrárias de certa classe de advogados chamados juízes. Para não serem importunados nos seus negócios, esses homens inventaram uma língua particular, na qual estão escritas as leis, quer dizer, os dispositivos dos quais dependem propriedades, vida e morte de todos os sujeitos que não entendem aquela língua. E aqueles homens embrulharam-se naquela língua a tal ponto que chegaram a não se entender entre si próprios; levam 30 anos para decidir se o terreno que os meus avós me legaram pertence a mim ou a um alheio que mora à distância de trezentas milhas, na cidade” .

 

Jonathan Swift (1667-1745), escritor irlandês, citado por Otto Maria Carpeaux em Retratos e Leituras