O fascismo em dez lições (2)
07/10/2024 12:33
“No contexto das reflexões sobre indústria cultural e fascismo nos Estados Unidos na década de 1940, Adorno analisou o comportamento dos fãs de bandas de swing e jazz, que se reuniam em coletivos adoradores das celebridades musicais da época. Eles se autodenominavam jitterbugs, expressão significativamente ilustrativa de um comportamento coletivo de admiração fervorosa, perpassado pela heteronomia sugestivamente associada ao comportamento de insetos atraídos pela luz, conforme indica o próprio termo com que gostavam de ser tratados. O jitterbug constitui- se como modelo comportamental perfeitamente adequado não apenas para caracterizar os fãs de música individual no interior do grupo, mas também a combinação de frenesi histérico e agressivo, com o ressentimento em relação a potenciais formativos capazes de fomentar a autorreflexão.” (Bueno, pág. 52).
“Em seu conjunto, a síndrome fascista se alimenta de propósitos que são radicalmente antagônicos a processos formativos no âmbito emocional e intelectual. O ressentimento anticultural e anti-intelectual de pessoas que em grande medida se orgulham da própria ignorância é explícito nos eventos que caracterizam a síndrome fascista. Uma grande parte da fúria coletiva se dirige contra pessoas que são identificadas com a cultura, no âmbito das universidades, escolas, teatros e imprensa independente. Nesse sentido, o fascismo se encarrega de metas inteiramente antagônicas àquelas que são visadas por processos formativos no campo cultural e pedagógico. Enquanto estes buscam emancipar os indivíduos do cativeiro da consciência, no sentido de torná-los emancipados de seus preconceitos e de sua incultura, o fascismo busca perpetuar o estado de dependência, heteronomia e empobrecimento psicológico.” (Bueno, pág. 60).
Sinésio Ferraz Bueno, O fascismo em dez lições